03 outubro 2007

Livro resgata lembranças de uma cidade 'perdida'

por Rômulo Maia
Foto: Nivardo Alencar


Retratar uma cidade, seu povo e costumes. Fazer o resgate de uma flora desmatada, queimada, que cedeu lugar à agricultura e pecuária familiar. Lembrar de animais nunca mais vistos onde pareciam infinitos. Escrever sobre um município ainda sem energia abundante, sem médico por perto, onde a rede era dormida e caixão, e as brincadeiras aconteciam nos terreiros. Contar sua própria história e resgatar um município perdido nas poeiras do tempo.

Odon Antão de Alencar fez tudo isso em três anos, 192 páginas e sete capítulos. “Minha vida nos Baixios”, livro da sua autoria, lançado e recebido com homenagem e festa pela população da pequena Pio IX – PI, distante 434 km da capital Teresina, além de uma publicação carregada de lembranças, apresenta-se como um importante documento histórico.

Ao resgatar essa “cidade perdida”, Odon Antão presenteia as novas gerações com um rico trabalho descritivo. Permite que conheçam suas raízes culturais, como seus antepassados viviam, que dificuldades enfrentavam, como se divertiam e, até mesmo, como a cidade nasceu.

E aos mais velhos, concede o gosto impagável de “rasgar”, pelo menos por instantes, as linhas do tempo e fazer uma viagem mental até as décadas de 30 e 40. Como se abrisse um baú cheio de recordações. “As músicas eram muito limitadas e o repertório, por sua vez, bastante pobre. O que predominava mesmo era o ‘infinca-a-faca, a faca-infinca’, ou o ‘faz que toca’ e assim os participantes dançavam e rolavam a noite inteira, no tijolo ou no chão batido das casas, onde a poeira levantava”, relembra no segundo capítulo do livro.

Sobre a fauna de Pio IX, o livro mostra como as ações impensadas ou mal pensadas de anos a fio sem fiscalização, deram fim ou diminuíram consideravelmente as populações de araras, emas, canários, gatos do mato, macacos, onças, veados, entre outros. “Quando da minha infância, mais precisamente nas décadas de 30 e 40, lembro-me bem da grande e exuberante quantidade de aves e pássaros que podia observar (...), sempre presentes nas matas, roçados e nos arredores das casas. Além das grandes revoadas de marrecos, papagaios, maracanãs e araras. Hoje, como se poderá observar, a situação é dramática, totalmente adversa e para a qual pouco podemos fazer”, lamenta.

“Minha vida nos Baixios” aborda também a situação geográfica e a emancipação política do município em 1888, com o nome inicial de Patrocínio. E dedica um dos maiores capítulos ao “autor e fundador” da cidade, Padre José Antônio de Maria Ibiapina e sua vida como peregrino, homem público e sacerdote.

A saída e volta do autor à sua terra natal têm destaque no livro. Formado em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, pós-graduado em Saúde Pública e com mestrado em Medicina Veterinária Preventiva pela Universidade da Califórnia, nos EUA, e pela Universidade Federal de Minas Gerais, ele morou também no México, onde foi bolsista das Nações Unidas.

Entre os cargos que ocupou, destaca os anos que foi Secretário de Agricultura, durante o governo Alberto Silva, e Diretor Federal do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária no Piauí, entre os anos 1992 e 1993.

“Se alguém não escrevesse isso, ia ficar perdido nas lembranças dos mais velhos”, explica Odon Antão de Alencar, que, por escolha pessoal, fechou sua loja de produtos veterinários e agropecuários para dedicar-se exclusivamente à elaboração de “Minha vida nos Baixios”.

publicado originalmente no http://www.acessepiaui.com.br

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