texto e fotos: Rômulo Maia
O povo do campo ocupou a Praça Pedro II e a Central de Artesanato Mestre Desinho. Dessa vez, não para protestar contra as mazelas que maltratam as populações rurais. Mas para mostrar ao Piauí os produtos da sua cultura, luta e força de trabalho. Desvendar para a capital um campo que acontece mesmo assolado por secas e desmandos institucionais. E dar mostras de como uma comunidade unida, trabalhando em coletividade, pode transformar realidades.
Esses são os homens e mulheres assentados, quilombolas, quebradeiras de coco e agricultores que dão vida à 4ª Ferapi (Feira da Reforma Agrária do Piauí), evento organizado pela Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e apoiado por órgãos e entidades da esfera civil e pública. O tema da edição 2007 é “Sementes: cultivos e culturas”.
O povo do campo ocupou a Praça Pedro II e a Central de Artesanato Mestre Desinho. Dessa vez, não para protestar contra as mazelas que maltratam as populações rurais. Mas para mostrar ao Piauí os produtos da sua cultura, luta e força de trabalho. Desvendar para a capital um campo que acontece mesmo assolado por secas e desmandos institucionais. E dar mostras de como uma comunidade unida, trabalhando em coletividade, pode transformar realidades.
Esses são os homens e mulheres assentados, quilombolas, quebradeiras de coco e agricultores que dão vida à 4ª Ferapi (Feira da Reforma Agrária do Piauí), evento organizado pela Fetag (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) e apoiado por órgãos e entidades da esfera civil e pública. O tema da edição 2007 é “Sementes: cultivos e culturas”.
Andar entre os 60 estandes instalados na Praça Pedro II é sentir os mais variados cheiros e ouvir inúmeros sotaques diferentes. Entre goma e doce de ovo, entre peças trançadas em palha e remédios naturais (ou fitoterápicos) é possível encontrar exemplos e histórias de organização e coletividade.
Na barraca do assentamento Vale da Esperança, de Teresina, o feijão verde ganhava destaque perto da puba, mandioca e do artesanato produzido pelas famílias que lá habitam. Em épocas de estiagem o produto é escasso, quase impossível de encontrar nos grandes supermercados, mas no Vale da Esperança “as vazantes ainda estão cheias”, garante dona Maria das Graças, de 56 anos. Como é possível? “É a irrigação de Jesus”, afirma a agricultora.
Dona Maria diz que a Ferapi não é importante pelos lucros com as vendas dos produtos da comunidade. Para ela o papel da feira “é mostrar para os capitalistas que o povo do campo é trabalhador.”
Trabalho que no Assentamento Novo Zabelê, em São Raimundo Nonato, sertão piauiense, está a cada dia mais organizado e abrangente. As 171 famílias – cerca de mil pessoas – que habitam no Novo Zabelê estão divididas em seis grupos que beneficiam frutas da caatinga e mel, pintam panos, fabricam remédios caseiros, produzem peças em palha e madeira, além de biojóias.
Os agricultores foram instruídos através dos projetos Dom Helder Câmara, do Governo Federal, e da Cáritas, ligado à igreja Católica. Parcerias que levaram experiências e saberes para o povo do sertão de São Raimundo Nonato “e agora geram renda para as famílias”, garante a agricultora Maria Luciene, de 27 anos.
Do município de São José do Piauí, distante 281 km de Teresina, vieram quatro representantes da comunidade quilombola batizada de Saco da Várzea. No local, vivem 144 famílias que vivem basicamente da agricultura familiar. Na Ferapi eles estão expondo cachaças produzidas com ervas e raízes do sertão, doces de ovo, mamão e caju, além da goma fresca fabricada na última “farinhada”.
Vaton Marcos, de 18 anos, conta que até agora nenhum curso ou projeto governamental chegou até a comunidade e que os produtos trazidos para a feira são feitos de forma isolada e bastante artesanal.
O jovem destaca a cultura quilombola como a principal riqueza do seu povo e conta que o Saco da Várzea é um dos poucos lugares do Piauí onde os vestígios do povo escravo ainda resistem. A comunidade já despertou o interesse do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que, segundo Valton, pretende realizar um trabalho de registro e catalogação dos usos e costumes do seu povo.
Ao reunir toda essa gente, suas histórias e experiências, a Ferapi faz bem mais que uma simples feira, onde produtos são apreciados e comercializados. Ali na praça, nos 60 estandes, estão provas materiais e imateriais que a cultura que permanece no campo, se potencializada, tem poder transformador. Bastam interesse, investimentos e sensibilidade. O campo é fértil.
publicado originalmente no www.acessepiaui.com.br
Na barraca do assentamento Vale da Esperança, de Teresina, o feijão verde ganhava destaque perto da puba, mandioca e do artesanato produzido pelas famílias que lá habitam. Em épocas de estiagem o produto é escasso, quase impossível de encontrar nos grandes supermercados, mas no Vale da Esperança “as vazantes ainda estão cheias”, garante dona Maria das Graças, de 56 anos. Como é possível? “É a irrigação de Jesus”, afirma a agricultora.
Dona Maria diz que a Ferapi não é importante pelos lucros com as vendas dos produtos da comunidade. Para ela o papel da feira “é mostrar para os capitalistas que o povo do campo é trabalhador.”
Trabalho que no Assentamento Novo Zabelê, em São Raimundo Nonato, sertão piauiense, está a cada dia mais organizado e abrangente. As 171 famílias – cerca de mil pessoas – que habitam no Novo Zabelê estão divididas em seis grupos que beneficiam frutas da caatinga e mel, pintam panos, fabricam remédios caseiros, produzem peças em palha e madeira, além de biojóias.
Os agricultores foram instruídos através dos projetos Dom Helder Câmara, do Governo Federal, e da Cáritas, ligado à igreja Católica. Parcerias que levaram experiências e saberes para o povo do sertão de São Raimundo Nonato “e agora geram renda para as famílias”, garante a agricultora Maria Luciene, de 27 anos.
Do município de São José do Piauí, distante 281 km de Teresina, vieram quatro representantes da comunidade quilombola batizada de Saco da Várzea. No local, vivem 144 famílias que vivem basicamente da agricultura familiar. Na Ferapi eles estão expondo cachaças produzidas com ervas e raízes do sertão, doces de ovo, mamão e caju, além da goma fresca fabricada na última “farinhada”.
Vaton Marcos, de 18 anos, conta que até agora nenhum curso ou projeto governamental chegou até a comunidade e que os produtos trazidos para a feira são feitos de forma isolada e bastante artesanal.
O jovem destaca a cultura quilombola como a principal riqueza do seu povo e conta que o Saco da Várzea é um dos poucos lugares do Piauí onde os vestígios do povo escravo ainda resistem. A comunidade já despertou o interesse do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) que, segundo Valton, pretende realizar um trabalho de registro e catalogação dos usos e costumes do seu povo.
Ao reunir toda essa gente, suas histórias e experiências, a Ferapi faz bem mais que uma simples feira, onde produtos são apreciados e comercializados. Ali na praça, nos 60 estandes, estão provas materiais e imateriais que a cultura que permanece no campo, se potencializada, tem poder transformador. Bastam interesse, investimentos e sensibilidade. O campo é fértil.
publicado originalmente no www.acessepiaui.com.br
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