Meus avôs chamavam de “sentina” os banheiros antigos deles. No fundo do quintal, um quartinho com porta tosca de madeira. Dentro, apenas um buraco no chão e uma ponta de arame na parede para dar sustento ao papel. O sujeito entrava, se acocorava sobre o buraco, fazia mira e... O resto vocês devem imaginar.
As “sentinas” eram comuns até a década de 1970. Nasci em 1985 e não lembro de vovô Pereira pedir licença para usar a dele. Nessa época, a casa já contava com um desses banheiros modernos, que reúnem local pra banho, vaso sanitário e bidé em um mesmo ambiente.
Na casa de vovô Chico também. Mas teimoso, turrão e tradicionalista como ele é, mantinha-se fiel à “sentina”. O hábito, porém, era tido como exótico por todos nós. “Pai ainda usa essa sentina véia”, surpreendiam-se as tias ao chegarem de viagem. Hoje ele a utiliza pouco. Apenas para uma mijadinha entre a aguação de uma planta e outra.
Toda essa fundamentação sobre os banheiros dos meus avôs é para conduzir vocês a uma conclusão óbvia: nosso país é apinhado de gestores felasdaputa. No final do mês passado, o Ministério Público do Piauí flagrou na zona rural no município de Pedro II o que não estava escondido. Em uma escola municipal, o único banheiro que existe ainda funciona no sistema do aluno acocorado sobre o buraquinho no chão.
Uma vergonha para o município. Uma ironia em uma cidade que gasta milhares de reais, anualmente, em um festival de jazz e blues. O dinheiro do cachê de qualquer artista de renome contratado para o “Festival de Inverno de Pedro II” seria suficiente para construir um banheiro decente na unidade escolar.
A cabeça do gestor da cidade deve ser tão atrasada quanto o uso de “sentinas”... E deve ser preenchida com os mesmos tipos de dejetos.
E ainda chamam Pedro II de a "Suíça piauiense".
Suiça... que piada!
ResponderExcluirUm absurdo isso ainda acontecer...
¬¬'