22 janeiro 2009

Errar é humano

Uma imagem vale mais que mil palavras. Agora repita isso sem pronunciar ou escrever uma sílaba. Difícil! A bem da verdade, quase impossível.

A fala e a escrita são fundamentais à comunicação. Até os especialistas em imagem aprendem e compartilham técnicas através de livros, palestras, entrevistas... Não há saída. A palavra existe sem a imagem, mas, e a imagem, sobrevive sem a palavra?

Há quem seja pudico e não aceite erros ou falhas mínimas nesse processo. Para essa gente, a palavra errada equivale a um peido sonoro durante o jantar de negócios da família. Inconveniente. Chata. Um cabinha saliente prestes a promover o maior dos constrangimentos.

Eu jogo no time dos tolerantes. Tá certo que não pega bem para um professor, juiz, jornalista ou médico sair violentando a gramática por aí. Mas todos erram. Uma ou várias vezes, mas erram. Até os mais cultos e polidos tropeçam.

Certos erros são inclusive admiráveis. Enchem os olhos pela coragem com que foram cometidos; pela ousadia da grafia equivocada ou da pronúncia indomada. Só bocas, mãos e cabeças excluídas do processo de alfabetização ou vítimas da educação pública do Brasil são capazes de cometer erros dessa natureza e mesmo assim persistir.

Na empresa onde trabalho, a limpeza fica por conta de Gilson Sobral, um negro de meia idade com pinta de Barack Obama que se auto-intitula “Maicon”. Alegre, malandro e pouco letrado, ele sempre varre o chão e espana os móveis cantarolando canções nacionais e internacionais adaptadas ao seu vocabulário e pedindo o que encontra pela frente (caneta, panfleto, moeda, cordão de crachá, óculos, chaves, celular, tênis...).

É típico do “Maicon” dar novas sonoridades aos nomes próprios. Eu, por exemplo, de Rômulo tornei-me “Mauro” e agora sou o “Romblus”. Cantídio, o patrão, é Cantigo. E por aí vai.

Responsável pelo estoque de materiais de limpeza, ele não titubeia quando é hora de relacionar no papel os itens em falta. O resultado é sempre nesse estilo:



Quando olhei essa lista de compras, na quinta-feira (22), percebi uma ótima atualização para o blog. A idéia era explorar o lado cômico, brincar com as palavras erradas. Mudei de idéia assim que passei a vista com mais cautela. Apesar de estar recheada de erros, a relação de produtos é compreensível.

As palavras atingiram a intenção inicial, que era comunicar, e a cruel barreira que exclui os pouco letrados ultrapassada. E isso não tem nada de engraçado; é belo!

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. É verdade: dentro da linguistica não existem erros quando se há compreensão. Ótima atualização

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