19 janeiro 2007

PERGUNTINHA CABULOSA



“Sendo um fotógrafo, como você mudaria o mundo? Respondam isso através de uma crônica.”


Essa foi a “simples” missão que o professor de fotojornalismo nos passou.


Durante muitos dias tentei responder mentalmente essa pergunta. Não consegui! E muitos menos obtive êxito em transformar qualquer um dos meus pensamentos vazios em crônica. Mas, o pior de tudo é que essa maldita perguntinha, despretensiosa, formulada sem nenhuma maldade, formou uma “bola de neve” na minha cabeça.


Como eu mudaria o mundo como estudante? Como pessoa? Como jornalista? Como militante estudantil? Como cabeludo? Como filho da Dona Lelêda?


Carai, eu não sei! Poderia ter inventado algo. Sei lá! Dizer que fotografaria o drama das pessoas no árido sertão nordestino; o olhar triste das crianças sem estudo, saúde e lazer; a agonia do meio-ambiente, massacrado pelo progresso urbano. Mas não fiz! Por preguiça, incapacidade ou racionalismo (por que não!?).


Racionalismo por ter consciência que minhas fotos, por mais que expusessem realidades nuas, cruas ou bem passadas, não mudariam o mundo. Talvez rendessem alguns parabéns, ligações, uns dois ou três prêmios e várias promessas de “nós vamos mudar isso”. E poderiam até mudar. Pô, mas não é o mundo, é só uma entre as várias esculhambações que existem.


E mesmo as mais insignificantes mudanças só poderiam ser motivadas se percebidas através da sensibilidade e fragilidade do olho humano e, não, por um aparelho; se captadas não pelo veloz obturador de uma máquina reflex ou o longo alcance de uma tele-objetiva, mas pelas ideologias e inquietações sociais de sujeitos que enxergassem bem além do próprio umbigo; por fotografias que exalassem sentimentos, sons, cheiros, movimentos, poesia; que causassem arrepios; que fizessem o olho brilhar e o coração acelerar. Fotografias que fossem algo além de uma simples peça de exposição ou um mero arquivo pessoal.


“E se organizássemos um exército de fotógrafos?” Sim, eu também pensei nisso. E ainda assim não achei a resposta.


Sinceramente, máquina fotográfica não vem acompanhada de capa e máscara de super-herói. É como falei há algumas linhas acima: poderíamos denunciar algumas realidades e motivar mudanças pontuais, mas nosso sistema corrompido e nosso povo “anestesiado”, quase desprovido da capacidade de se indignar, não permitiriam transformações grandiosas.


Viu? O que parecia um simples trabalho acadêmico transformou-se num “mostro”. Um bicho que me engoliu, mastigou e arrotou apenas uma conclusão com trejeitos de solução: vou começar as obras de mudança por mim. O mundo vem depois!

por Rômulo Maia

Um comentário:

  1. Anônimo9:17 PM

    Esse fim de semana assistí ao Dvd dos "Beatles", e ví uma entrevista concedida por John Lennon e Yoko Ono à uma Tv Japonesa, em que ele dizia que embora seja só uma imagem, e talvez não tenha o alcance que vc imagina ou deseja, ela produz um raciocínio. Se a pessoa pensar a respeito, ela vai começar a agir com mais dignidade... ela vai dar "bom dia", vai pedir "desculpas", vai pedir "licença", e talvez dê uma esmola ou ajude um cego a atravessar a rua. Ou quem sabe até, ela imite vc e também cole um cartaz na janela, pedindo paz.
    Embora seja só uma foto, ela pode mudar alguma coisa sim. Nada é impossível, embora seja difícil neste mundo de muitas alienações.

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