Foto: Thiago Amaral |
Povo na rua. Cidade em convulsão. Teresina é novamente balançada por protestos de estudantes e trabalhadores. O sistema de integração das linhas de ônibus e o valor da tarifa não agradam.
Entramos no quinto dia de manifestações. Muitos episódios lamentáveis a relatar.
Polícia Militar truculenta. Fotos e vídeos mostram jovens sendo pisoteados pelos coturnos da tropa de choque. Spray de pimenta no rosto de manifestante sem reação. Bomba de efeito moral em gente sentada. Bala de borracha também. Intimidação. Celulares quebrados. Dedo na cara. Gritos autoritários.
Representantes políticos mudos, protestos barulhentos. Radicalização. Ônibus queimado. Vidraças estilhaçadas. “Fantasmão” exorcizado tomba sobre a rede elétrica. Apagão. Breu total na Avenida Frei Serafim. Parada de ônibus depredada. Pancadaria no escuro. PM desce o cassete. Estudante reagindo. Prisões. Detenções. O que seja. Confusão.
Calma! Toda generalização é burra. Grupos recuaram no palco dos confrontos. Atos de violência foram reprovados pelos próprios manifestantes. Excessos não são razoáveis. De nenhum lado. A violência não pode ser creditada a todo o movimento, explicam estudantes.
Quem se importa! “Vândalos! Marginais! Delinquentes!”, grita a mídia reacionária, fazendo coro a políticos e empresários. Semi-verdades. Inverdades. A verdade em último lugar. Ou em lugar nenhum. A parte como o todo.
Psiu! Nenhum piu! No Piauí, poderes e poderosos exercendo a democracia com repressão e censura. Jornalistas encurralados. Uma ligação. “Eu queria esclarecer pra você...”. Segunda ligação. “A gente queria te pedir prudência.” Gestores nas redações. Nenhum efeito. Espíritos livres. Dedos também.
Nova investida. Golpe à imagem de repórter. Acusação falsa. Vídeo mudo no ponto de ser exibido. Imagens oficiais retiradas do contexto real, pré-mastigadas com uma interpretação repugnante. Segundo a gestora: “Ele estava ateando fogo na árvore”. A verdade: Ele procurava os óculos de um colega jornalista.
Emissoras de televisão sedentas. A serviço do jogo sujo. Golpe é descoberto a tempo. Plano abortado. Mas vaza o boato. O mal está feito. “Hua! Hua! Hua!”, sorriem macabramente.
Mais um dia. Novo dia. Índole inegociável. Liberdade muito menos. Como diria Sabino, bêbado lá de Pio IX, “não vendo minha palavra”. Ele negava a oferta de uma doze de cachaça pelo fim da barulheira na rua. Eu nego o medo que tentam me impor.
“Não vou, eu mesmo, atar minha mão”. Afinal, é como diz o mestre Belchior: “a única forma que pode ser norma é nenhuma regra ter; é nunca fazer nada que o mestre mandar. Sempre desobedecer. Nunca reverenciar.”
Desistam! Não me rendo!
Como sempre meu amigo você consegue através das linhas balançar os juizos .... seria bom se os nossos representantes se sensibilisassem como os que sofrem com a causa.
ResponderExcluirA porteira se abre...Teresina finalmente desperta contra o coronelismo...
ResponderExcluirVocê 'ainda e sempre' me faz acreditar em jornalismo decente nesse estado, Rômulo. Tá lindo o texto! lindo!
ResponderExcluirSou teu fã, caba arrochado!
ResponderExcluirÉ simplesmente incrível como ainda acontecem essas coisas nesta cidade... neste Estado.Em pleno século XXI e o Piauí ainda vive uma situação de censura, tanto às reivindicações da população como à imprensa que não os bajulam! E isso acontece, infelizmente, porque alguns veículos ainda se deixam manipular dessa forma. Parabéns a você e aos que te apoiam
ResponderExcluirImpressionante como, em pelo século XXI, Teresina e o Piauí ainda vivem numa situação onde a superioridade política e o dinheiro querem sempre falar mais alto, impondo a censura às reivindicações da população e a imprensa. O que DEVERIA ser o contrário.
ResponderExcluirE isso acontece, infelizmente, porque alguns veículos de comunicação ainda se deixam levar.
Não se renda!
Parabéns a você....
Rômulo, parabéns!!! Quem dera que meia dúzia dos jornalistas da "Grande Imprensa" tivessem pelo menos 1% do caráter, da ética e da decência que você tem. Eles estão a serviço dos empresários e dos políticos. São subservientes de causar nojo, o que não é o seu caso.
ResponderExcluirVocê tem veia de grande escritor. Parabéns Rômulo Maia. E mais que sua fã, sou uma grande admiradora da Luta pela COLETIVIDADE e apoio a Manifestação dos Estudantes, que com certeza, deveria ser de toda a SOCIEDADE, como no final, a mesma se beneficiará.
ResponderExcluirÉ dose!
ResponderExcluirSaber que um caba arrochado desse é meu filho me envaidece,me deixa feliz e com força para cada vez mais gostar de ser independente e de fazer as coisas com seriedade.
ResponderExcluirBelo texto, amigo Rômulo. No entanto, como jornalista que não está amarrado a nenhum veículo de comunicação ou à prefeitura tenho críticas a fazer e convido a ler esse artigo: ESTUDANTES FAZEM GREVE DE FOME CONTRA A INTEGRAÇÃO (http://www.facebook.com/notes/wesslley-sales/estudantes-fazem-greve-de-fome-contra-a-integra%C3%A7%C3%A3o/2949827194794). Abraços e parabéns pelo belo trabalho.
ResponderExcluirParabéns nas suas palavras esta tudo.....
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
ResponderExcluirA mídia oficial relutou em pautar o movimento contrário ao aumento, mas tem se rendido, por força das ruas e por obra do jornalismo independente. Há, como você mencionou, riscos de excessos. Mas o saldo é a discussão inadiável sobre um sistema de transporte público inequivocamente promotor da injustiça social, na medida em que concentra renda e emperra o próprio crescimento socioeconômico da cidade.
Kilpatrick Campelo
Professor da UFPI
Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirA mídia local, de forma inequívoca, tem sido obrigada a pautar a mobilização estudantil. Mas, ainda tem de avançar para discutir, em profundidade, os termos do contrato de concessão do transporte público em Teresina. A discussão é, sem dúvida, política, mas deve ser fundamentada em aspectos técnicos de ordem jurídica e contábil. Parece-me simples provar que a tarifa de ônibus de Teresina é extorsiva. A margem de lucro deve ser reduzida ou o poder público deve encontrar meios para torná-la módica. De todo modo, parabéns pelo seu texto porque noticia o evento por um enfoque mais independente, sem omitir a pluralidade de perspectivas de análise e os eventuais excessos dos diversos atores envolvidos.
Kilpatrick Campelo.
Prof. da UFPI.
Ele procurava os MEUS óculos. E junto COMIGO.
ResponderExcluirass: Igor Prado.
Você é o cara! Consegui fazer eu mudar de ideia e perceber que são pessoas como você que não faz o jornalismo nesse nosso Piauí uma merda! PARABENS!
ResponderExcluirExcelente ponte entre Belchior e a realidade. Certamente ele foi um homem a frente no seu tempo, pois suas coisas continuam atuais.
ResponderExcluir