23 junho 2011

Meu vô matou uns gatos

Meu avô executou gatos a vida toda. Nunca gostou dos bichanos. Motivos? Comem galinhas, passarinhos, são ladrões, fazem barulho, quebram telhas, cagam tudo.

Aos 88 anos, durante andança matinal pelo quintal, tentou fazer uma nova vítima. Errou o açoite com o pau, caiu e quebrou o fêmur.

Dor, ambulância, transferência de Pio IX para Teresina, cirurgia, platina, parafusos e muitas recomendações médicas.



Castigo pelo erro ou por tantos assassinatos? Impossível saber.

Preso a uma cadeira de rodas, muito se lamentou. Fez juras de paz eterna com a natureza.

Três meses depois de tratamento na capital, volta para casa. Ainda com a perna imobilizada, recebe as boas vindas de um casal de gatos apaixonados. Sobre as telhas do seu quarto, o vô Chico escuta inerte a trepada noturna dos bichos.

“Miarraaaaaaaanha! Miarraaaaaaaanha!”, gritavam e gritavam até serem espantados por tia Síria.

Deboche? Vingança? Provação!



Teria vovô encontrado uma moral para a sua história? “Não matarás mais gatos”, parecia determinar a voz da sua consciência.

Mais dois meses se passaram. Revisão em Teresina. Ansiedade, lamentos, novos exames.  Fêmur calcificado.

Ufa!

Passadas lentas, com cuidado, sem extravagância, recomendou o doutor.

Vô Chico volta pra Pio IX. Ainda na estrada, pensa alto: “Gato comigo, agora só se for no tiro!” É mais seguro!



- Os desenhos que ilustram esse post são da Iana Nascimento, do blog Insipiente Mavioso.

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