08 janeiro 2009

Escultura em palito

No Ceará me deparei com poucos artesanatos criativos, diferentes, do tipo que o olhar registra, o cérebro vasculha e a memória não recorda de nada semelhante. Muitos colares de contas e sementes, esculturas em barro com figuras nordestinas, acessórios domésticos feitos com cipó trançado... O de sempre!

Em particular, apenas dois me impressionaram. Em Beberibe a cultura de desenhar paisagens despejando areia colorida em frascos de vidro é de uma riqueza criativa incontestável (falaremos nisso amanhã). Mas foi no Engenho Casa Grande, em Pindoretama, que observei uma técnica artesanal quase cirúrgica, que ainda não conhecia: escultura em palitos de fósforo.

Ao lado da maior rapadura do mundo, o artesão Luciano trabalha lentamente a madeira de um palito comum, desses que usamos em casa. São necessárias três horas de trabalho, em média, para dar formas e cores a uma figura.

O tronco das esculturas é esculpido todo no corpo do palito. Apenas os acessórios (bolas, skates, saias...) é que são feitos em separado e fixados com cola comum.

Luciano é de poucas palavras. Tentei puxar conversa, mas ele falou pouco. Apenas o suficiente. Disse que vive exclusivamente das esculturas que produz e vende a R$ 10. Perguntei onde ele aprendeu a técnica. Sem desviar os olhos do trabalho, o artesão respondeu secamente: “Sou autor, professor e aprendiz da minha própria técnica.”


Fotos: Rômulo Maia

Um comentário:

  1. Anônimo2:15 PM

    Olhe, vou te falar que seus posts são como passos de tango em slow motion. De fazer a gente estancar os pensamentos e ficar matutando :)

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