De todas as rotinas de uma redação de jornal, TV, rádio ou portal, a mais mórbida é, sem dúvidas, a famosa “ronda”.
O que é a “ronda”? Consiste basicamente em você sentar ao lado de um telefone, com uma lista de números ao alcance dos olhos e ligar para as Polícias Civil, Militar, Federal, Rodoviária Federal, Corpo de Bombeiros... para qualquer corporação ou entidade responsável por registrar os desastres e a selvageria humana. Confesso, não gosto. Correr atrás da desgraça alheia não é uma das melhores tarefas de um aspirante a jornalista.
Certa vez liguei para o Instituto Médico Legal. Era cedo da manhã. Uma segunda-feira. Queria saber o “saldo” do plantão do final de semana. É fato: o povo fica mais morredor aos sábados e domingos.
Nunca dei muita sorte que os atendentes do IML. Nesse dia falei com alguém inspirado.
- Alô!? Bom dia! É do IML?
- É!
- Oi, aqui é o Rômulo Maia, repórter do Acessepiauí. Com que eu falo?
- Araújo.
- Araújo, tudo bom?
- Tudo...
- Queria saber se tem algum corpo aí.
- Olha, corpo tem um monte.
- É mesmo?
- É, mas do povo que trabalha aqui. Morto não tem nenhum!
- ...
Não consegui reagir. Antes de qualquer outra palavra minha, Araújo se despediu com a educação costumeira:
- Té logo.
E bateu o telefone na minha cara.
***
J.J. + Araújo 2 x 0 Rômulo
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