16 junho 2009

O prato do dia é estrangeiro

Desgraça substitui desgraça. Esse é o manual de trabalho da nossa mídia. Choveu e os noticiários só falavam em enchente. Uma gripe se alastrou pelo mundo e os jornais se espojaram no número crescente de vítimas da tal gripe suína (que depois descobriram não ter nada a ver com os porcos).

O Piauí, sem casos da gripe e sem vítimas fatais das chuvas, entra no mapa nacional das desgraças. A barragem de Algodões I, em Cocal, rompe e a tragédia é comemorada com um soquinho no ar pelos jornalistas.

1, 2, 3... 9 mortes. Paulo Henrique Amorim desembarca na cidadezinha. Willian Bonner ameaça sair da sua bancada e viajar até o Nordeste brasileiro. Desiste, mas envia seus correspondentes. Cocal nunca viu tantas câmeras, microfones, máquinas fotográficas, repórteres...



“Espero que vocês venham aqui depois, pra falar das coisas bonitas da nossa cidade”, foi o desejo que uma cocalense manifestou a mim, ao final de uma entrevista. Dificilmente retornarei, amiga. Tenho outras tragédias para noticiar. O tempo urge e os nossos fatos de urubus corroem de fome. Queremos cadáveres, lágrimas, dor; o ser humano em suas piores e mais degradantes condições.

Tudo pelo acesso. Tudo para manter você - leitor, espectador, ouvinte -, vidrado em nós. Entenda, precisamos lucrar. Vivemos pelo dinheiro.

Mas quis Deus (esse serial killer de uma viga) que um avião carregado com mais de 200 corpos descambasse rumo às águas do oceano Atlântico. 1, 2, 3, 4... 49 cadáveres encontrados até agora. Peças e pedaços de fuselagem espalhados pelo mar. Navios, radares, superaviões. Ulala!

Adeus Cocal! Adeus cocalenses! Fiquem com suas dores, desgraças e “coisas bonitas” pra vocês. O prato do dia é estrangeiro. Airbus! Nome bonito, né não? Ensina seu filhinho a falar. Não pode!? Por quê? Ah! Ele foi arrastado pela enxurrada e morreu afogado. Meu pesar!

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