Enigma publicitário - 2

Comerciante sem grana para contratar agências especializadas em publicidade ou, pelo menos, uma boa serigrafia, apela sempre à velha criatividade. O resultado inevitável são anúncios toscos, panfletos artesanais, mensagens nada objetivas e pérolas, muitas pérolas.

No dia 07 de janeiro deste ano publiquei com o título de “Enigma publicitário” um panfleto que o Marcílio Cabeção recebeu no centro de Teresina. O papelzinho trazia uma infinidade de produtos e serviços oferecidos pelo ABA Foto Digital e ABA Salão Unissex: água de coco, guaraná da Amazônia, foto 3x4, agência de namoro e de emprego, corte de cabelo, manutenção de celular... Tudo misturado em frases confusas e temperado com tentadoras promoções. “No seu 3x4 pague R$ 1,00 no seu corte de cabelo.”

Se criatividade é para poucos, talento para dizer nada com coisa nenhuma idem.

Até domingo (15) considerava os “publicitários” da ABA insuperáveis. Revi meus conceitos quando o Leo, meu irmão, puxou do bolso o panfleto do “Frango da Casa do Frango”. Li, reli, virei de cabeça pra baixo, dobrei e não consegui balbuciar nada além de “Que porra é essa!?”

Surgia ali, na sala de casa, o "Enigma publicitário - 2"! (palmas)

O anúncio ocupa os dois lados do papel. No que podemos chamar de “lado A” do panfleto, o “publicitário” vende seu produto. Os receios, surpresas e encantamentos de uma cliente ao ter contato com os frangos com recheio e sem recheio do Miguel da Caixa Econômica é a estratégia utilizada.

É um testemunhal engraçado, provavelmente forjado, que acaba com um romântico e sem sentido “Os primeiros passos que dei, incertos, porém confiantes, foram em direção aos meus Pais, recordo com saudades.” (Só faltou algo do tipo: “Pai! Mãe! Tenho algo a contar: os frangos do Miguel são os melhores da cidade.”)

Mas o tutano, o encantador do anúncio vem no “lado B”. Sabe quando o sujeito quer fazer um giro e faz um giral? Pois o seu Miguel da Caixa Econômica conseguiu isso com toda a propriedade de quem guarda em segredo um tempero especial para frangos. Confesso, não entendi bulhufas dessa segunda parte. Confio em vocês. Leiam! Se decodificarem a mensagem, por favor, desenhem pra mim.
Para analisar a peça com todo o rigor técnico, busquei a opinião de uma profissional da área (de publicidade e não de frangos). Com a palavra, a publicitária Gisela Evangelista: “O layout disso [panfleto] parece um informe de qualquer canto. Nem os informes lá do prédio que ficam no mural são ruins assim. Ele [Seu Miguel] quis passar o testemunhal do cliente, mas precisava valorizar isso com um layout, um texto mais elaborado. E essa revolta dele no final, sem explicação, vai deixar o povo pensando que ele é um insano. O diabo é quem compra frango onde o dono é louco. Isso [a mensagem] quem anda comprando por lá deve saber o que é, mas quem vê isso do nada pensa que ele tem alguns parafusos a menos.”