24 janeiro 2007

MÃES

Sábado, 20 de janeiro de 2006. Foi condenada a oito anos e quatro meses de prisão a ex-vendedora Simone Cassiano da Silva. Ela foi presa, julgada e condenada por tentativa de homicídio depois que ensacolou e jogou nas águas da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, sua filha de apenas dois meses de idade.
Segunda-feira, 22 de janeiro de 2006. A costureira Maria Jerônima Campos, de 36 anos, se atira em um poço de quatro metros de profundidade apara salvar seu filho, Gabriel Marcos, que se afogava. Maria Jerônima não sabe nadar, mas disse que pular no poço era o único jeito de salvar seu filho. O caso aconteceu em Franca, a 416 km de São Paulo.

As duas histórias me comoveram bastante. A primeira pela frieza da mãe, que “coisificou” a própria filha, dispensado-a nas águas da Lagoa da Pampulha como se fosse um pedaço de pau seco. Acho que Simone Cassiano acreditou que seu “problema” iria ficar guardadinho no fundo da Lagoa. Ainda bem que ele (o “problema”) boiou e chorou alto, chamando a atenção de pessoas que passavam pelo local. Foi salvo! O fato me emocionou também por ter arrancado de forma brusca a máscara de um país onde faltam políticas efetivas de prevenção e educação sexual, e sobram desigualdades sociais e injustiças da justiça.

No caso de Dona Maria Jerônima, o ato quase impensado de se atirar para o tudo ou nada em um poço de quatro metros de profundidade salvou a vida do próprio filho. Aqui, além das injustiças e desigualdades (a mãe colhia água em uma bica devido a falta de abastecimento na cidade de Franca), surge outro troço miserável: os urubus midiáticos. A agonia da mãe e o desespero da criança foram registrados por um fotógrafo de um jornal que fazia matéria no local. Quem resgatou mãe e filho do buraco foram moradores da região e o motorista do jornal que conseguiu o furo. Aí eu pergunto: E se não houvessem moradores por perto? Se apenas o fotógrafo e o motorista estivessem no local, o cara iria registrar a agonia, o desespero e o último suspiro dos dois ou perderia as boas fotos em detrimento do salvamento de duas vidas? O que seria mais gratificante para essa criatura?

E se eu fosse o fotógrafo, o que faria na hora? Ainda com os instintos humanos bem conservados, acho que esqueceria a máquina e daria, pelo menos, uns belos gritos de desespero.
Mas, é como dizem por aí: "cada um é cada um". Fazer o quê, né?

por Rômulo Maia

Um comentário:

  1. Anônimo3:37 PM

    Adorei! Continua assim... Vou entrar sempre
    hauhuahuahahuah
    Seu bobão...
    Ta muito legal mesmo a matéria...
    Ñ se preocupa, ñ estou comentando por obrigação, mas esses 2 fatos são realmente muito impresionantes...
    Xauzin

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